Marcas com significado tendem a ganhar mercado mesmo na crise, diz presidente da Lojas Renner
O cenário macroeconômico não tem sido nada fácil para as empresas, e isso já não é mais novidade. Em tempos de Covid-19, a realidade de lojas fechadas, das demissões e da perda de poder de compra do consumidor criou um dos mais desafiadores cenários para os negócios que já vivenciamos. Mesmo as empresas que estavam bem posicionadas no mundo digital, e que conseguiram se adaptar rapidamente, estão sentindo a complexidade do mundo atual. Mas, marcas com significado tendem a ganhar mercado mesmo na crise. É o caso das Lojas Renner, gigante do varejo brasileiro. Depois de um 2020 de muitos projetos de abertura de lojas freados, a companhia pisou no acelerador em 2021. “Vamos seguir investir alto esse ano”, conta o diretor-presidente da Lojas Renner, Fábio Faccio. A varejista, uma das fundadoras do Instituto Caldeira, já aterrissou com o seu lab de inovação no espaço localizado no Quarto Distrito, em Porto Alegre. “As pessoas aprendem muito mais juntas do que sozinhas. Essa colaboração é o que faz os executivos, as empresas e a sociedade melhores”, aponta o executivo.
Instituto Caldeira – Como está a expectativa para o trabalho que está sendo realizado no Instituto Caldeira, agora com o lab e inovação já inaugurado?
Fábio Faccio – Somos uma das fundadoras do Instituto Caldeira, Aliás, como Lojas Renner, o Instituto Caldeira é o primeiro ecossistema de inovação no qual estamos presentes fisicamente, e a meta é levar todas as nossas marcas junto – Renner, Camicado, Youcom e Ashua. Também já estamos na Acate, em Santa Catarina, com a Realize, nossa operação financeira e temos relacionamento com outras instituições, como Distrito e Endeavor. A ideia é estar presente no ecossistema, poder gerar aprendizado para nosso time e muita troca de experiências com as empresas presentes no Instituto Caldeira. Vamos fazer rodízio dos nossos times de colaboradores para que todos possam vivenciar essa sinergia gerada. Ali vamos também identificar potenciais parceiros, como entre as startups, e ver quais fariam sentido trabalharmos em conjunto, seja para contratar soluções existentes ou até mesmo investir nestas empresas.
Instituto Caldeira – Onde as visões da Renner e do Caldeira se encontram?
Faccio – Assim como é a missão do Instituto Caldeira, estamos sempre buscando instigar o aprendizado, o conhecimento e a curiosidade intelectual constante. Isso é o que gera inovação e melhorias sistemáticas para os negócios. No passado, não tínhamos tanta facilidade para ter acesso ao conhecimento coletivo, gerado a partir da colaboração. Era tudo mais estanque. Hoje em dia esse cenário mudou e as transformações estão acontecendo tão rapidamente, especialmente, em função desse potencial do conhecimento construído a partir do coletivo.
Instituto Caldeira – Apesar do cenário macroeconômico complexo, a Lojas Renner está preparada para avançar em 2021?
Faccio – Sim. Vamos fazer investimentos importantes esse ano em transformação digital, abertura de lojas e novo centro de distribuição. No ano passado, investimos menos do que o previsto, em função do cenário da Covid-19. Tivemos que prorrogar a abertura de muitas lojas e agora voltaremos ao mesmo ritmo de abertura de outros anos. Temos a previsão de inaugurar cerca de 30 lojas de todas as marcas do grupo. Também seguimos investimento no nosso novo centro de distribuição, de mais de 150 mil metros quadrados, o maior e mais tecnológico da nossa operação, e que está sendo construído em Cabreúva, interior de São Paulo.
Instituto Caldeira – Como você projeta 2021 sob a perspectiva dos negócios?
Faccio – Quando olhamos as pesquisas e analisamos o mercado vemos quanto vários setores foram afetados, como o turismo e o lazer, e outros impulsionados. No nosso caso, o varejo de moda foi bastante impactado. As pessoas passaram a revisar gastos e a maior prioridade das famílias foi a saúde e alimentação.
O ano de 2020 foi bastante desafiador, mas temos um time ágil e preparado e, assim, conseguimos atravessar da melhor forma. E 2021 não melhorou. Ainda tivemos um um primeiro trimestre mais difícil, em função do recrudescimento da pandemia no período, mas desde abril temos registrado uma melhora gradativa. Apesar de o nosso setor ter sofrido, marcas que tem significado para o consumidor, com uma boa proposta de valor e que inovam, conseguem sair na frente por trazer melhores produtos e benefícios. Essas tendem a ganhar mercado mesmo na crise.
Instituto Caldeira – Quando todos precisaram ir para o digital, algumas empresas como a Renner, que já atuavam fortemente nestes canais, saíram na frente. O que representa esse negócio hoje em dia, comparado com o varejo tradicional?
Faccio – As vendas por canais digitais em 2020 chegaram a 12% na Lojas Renner e a 17,5% no primeiro trimestre de 2021. A tendência é esse índice ir aumentando cada vez mais, dentro da nossa lógica de integração total. Daqui a pouco, não teremos mais como separar o que vem de venda on-line e o que vem da off-line. Isso porque, muitas vezes as pessoas começam as comprar pela loja física, experimentando o produto, e terminam pelo digital. Sem falar que muitas compram pela internet e retiram na loja física. Mesmo no nosso segmento, que é um dos com menor penetração de venda on-line em função da necessidade de as pessoas provarem as roupas, temos obtido patamares relevantes nesse modelo. Somos o player mais avançado no mundo digital entre os nossos competidores. Atuamos no e-commerce desde 2011 e depois fomos evoluindo com nossos canais digitais. Enviamos produtos direto da loja ou do CD, e oferecemos a opção de as pessoas tirarem no ponto físico. Em algumas cidades, as pessoas podem adquirir nossos produtos nas vending machines e pagar as compras em caixas de auto-atendimento ou no device do nosso colaborador.
Instituto Caldeira – Quais os diferenciais que a digitalização deve trazer para negócios como da Renner?
Faccio – A geração de experiências é uma dos principais diferenciais. Há mais de 20 anos temos como propósito encantar o cliente, levar uma experiência que supere as expectativas deles. Quando fala em inovação, não é inovar por inovar. Para fazer sentido, tem que resultar em algo que encante e gere melhores experiências de consumo.
Instituto Caldeira – O quanto a inovação apoiou a Renner a se tornar uma líder de mercado e como essa jornada continua daqui para frente?
Faccio – A inovação sempre esteve na alma e na história da Lojas Renner. Fomos uma das primeiras companhias a se tornar uma Sociedade Anônima (SA) do Brasil. Depois fomos pioneiros na criação de um private label (cartão próprio da loja) e iniciamos a prática de medição da satisfação dos clientes dentro da loja, por meio do Encantômetro. Há mais de 20 anos, estamos o tempo todo inovando. Seguimos focados em encantar os nossos clientes e, para isso, a inovação é, mais do que nunca, necessária. A nossa vida e também o varejo passa pelo mundo digital.
Instituto Caldeira – Qual o foco das ações de inovação hoje em dia?
Faccio – A inovação deve estar presente em toda jornada de compra e também para gerar maior produtividade para o trabalho das nossas equipes. Na Lojas Renner, a inovação atualmente está muito focada na digitalização e na sustentabilidade. Como conseguiremos encantar os clientes e evoluir os nossos negócios usando ferramentas que temos hoje em dia. O conhecimento disponível no mundo hoje é muito maior do que no passado e esse é um caminho para criarmos um negócio mais sustentável e focado na jornada dos clientes, sempre tendo a tecnologia para apoiar isso.
Instituto Caldeira – A inovação aberta, com a aproximação das startups e ambientes de inovação, é uma resposta para isso?
Faccio – Sim, estamos sempre em contato com os ambientes de inovação, pois assim temos acesso a novas ideias e muito aprendizado para as nossas equipes e a possibilidade de parceiras dentro da lógica de ganha-ganha.
A capacidade de inovar é infinitamente maior se tivemos a chance de criar algo com outros parceiros. Queremos acelerar algumas das iniciativas que temos necessidade na nossa operação. Esses ecossistemas sempre trazem ganhos. A aproximação com as startups gera um aprendizado mútuo. Hoje já têm muitas startups desenvolvendo e fornecendo soluções para a Renner. Ainda não aconteceu de investirmos em alguma dessas operações, mas, se em algum momento identificarmos que isso será importante para o desenvolvimento do nosso ecossistema interno e para a startup, faremos.