Locaweb adquire Bling por cerca de R$ 525 milhões; empresa de Bento Gonçalves projeta crescimento expressivo
“Bah, vocês vão entrar no mercado de software de gestão?”. Antônio Nodari lembra até hoje a reação de incredulidade de algumas pessoas quando ele decidiu criar o Bling. Até dá para entender. Esse mercado já era na época, os anos 1990, dominado por gigantes, como SAP. Essas grandes corporações já estavam adquirindo os players menores e tudo sinalizava para uma consolidação. Talvez até por saber disso tudo, o empreendedor relembra que quando a empresa foi criada, eles não tinham planos tão ambiciosos. Mas, tudo isso ganhou outra conotação nas últimas semanas com a decisão da Locaweb de adquirir a empresa de Bento Gonçalves (RS) por quase R$ 525 milhões.
Não tem um empreendedor que não tenha um sonho grande, mas, ao mesmo tempo, sempre tivemos o pé no chão. Não tínhamos a pretensão de ser os maiores no Brasil nesse segmento de micro e pequenas, mas acho que hoje somos”, comenta Nodari, destacando que a Bling já soma hoje são 50 mil clientes em todo Brasil e projeta um crescimento expressivo para os próximos anos.
É, eles foram muito mais longe do que imaginaram. A empresa gaúcha tem 180 colaboradores e um sistema de gestão para atender o micro e pequeno empreendedor que já possui mais de 200 integrações, com soluções no modelo SaaS para negócios físicos, virtuais ou híbridos. Entre as ofertas estão módulos para emissão de notas fiscais eletrônicas, catálogo de produtos, estoques e vendas multicanal, entre outros. Para os próximos meses, pretende adicionar mais serviços a esse pacote, como PIX, adquirência e antecipação de recebíveis.
Mais de R$ 5 bilhões são transacionados pela sua plataforma. Nos últimos 12 meses, a base de clientes pagantes da companhia aumentou 62% e o ARR (Receita Anual Recorrente) atingiu R$ 60 milhões, um crescimento anual de 79%.
Todos esses números chamaram atenção do mercado e culminaram recentemente com a venda da operação para a Locaweb. A companhias, aliás, tem apostado na estratégia de aquisição que, recentemente, envolveu outro player gaúcho.
A gente tinha convicção que esse mercado ainda não estava saturado e que era grande demais para se acomodar. Não queríamos ser os maiores do Brasil e crescer feito loucos, mas ter um negócio sustentável e ganhar um dinheirinho para nos sustentarmos”, relembra o fundador e CEO do Bling.
Um dos caminhos para a diferenciação foi apostar cedo no modelo de software como serviço – antes até de concorrentes bem maiores. “Isso estava caindo de maduro e fomos um dos pioneiros no mercado. Para as empresas que já tinham um legado mais difícil fazer essa transição, e aproveitamos para avançar rapidamente”, recorda.
Nodari começou a sua trajetória como desenvolvedor independente, nos anos 1990. Logo em seguida, abriu um negócio, contrato mais desenvolvedores e, juntos, eles passaram a atender empresas locais. O foco já era apoiar as operações de menor porte com sistemas de controle e gestão.
Foi aí que veio a internet, com força, e o empreendedor percebeu que esse seria o caminho. “Vender gestão como serviço trazia muitas vantagens, como a de não precisar estar in loco no cliente para instalar nada. Isso não era tão comum no Brasil ainda lá por 2008”, recorda. E deu certo.
Ao comentar o processo de venda da operação que ele criou e nutriu durante todos esses anos, Nodari revela um misto de felicidade e tristeza. “Conversamos com a Locaweb, vimos a proposta e achamos que era o momento para unir forças. O resultado é essa sensação de conquista, de termos nosso trabalho reconhecido e de pensar: sim, criamos um negócio que vale R$ 525 milhões, e até mais”, brinca. E, claro, de ter que desapegar um pouco. “É uma tristeza boa, pois é algo que construímos ao longo da vida e que agora iremos dividir com novos parceiros”, analisa.