Givanildo Luz: A Saque e Pague quer ser a ponte entre o mundo físico e o digital

Givanildo Luz: A Saque e Pague quer ser a ponte entre o mundo físico e o digital

Mais de 200 milhões de transações já foram realizadas nos caixas da Saque e Pague, empresa de tecnologia com uma rede de autoatendimento que transformou o fluxo do dinheiro no Brasil ao permitir a circulação de valores, de forma descomplicada, no mundo físico e digital. Isso significa R$ 72 bilhões movimentados. Mensalmente, circulam aproximadamente R$ 4 bilhões e são realizadas mais de 5 milhões de transações na rede da empresa. Com mais de 2 mil terminais espalhados pelo Brasil, a companhia que cresceu 25% no ano passado e faturou R$147 milhões, planeja mais 500 pontos de vendas novos até o fim de 2021. Os números impressionam.

Focada em soluções inovadoras para o varejo, instituições financeiras e pessoas físicas, bancarizadas ou não, a Saque e Pague ganha escalabilidade para ampliar os pontos de atendimento. Além de estar em todos os estados brasileiros, tem operações no México e Colômbia. Outro local em que a Saque e Pague está presente é no Instituto Caldeira, para onde pretende levar alguns squads de inovação. A ideia é estar próximo ao ecossistema, especialmente dos players focados em soluções financeiras, para gerar um ambiente de trocas e cocriação. Fundada em 2010, a empresa tem disponibilizado muitas inovações desde então. Foi pioneira, por exemplo, ao usar o conceito de reciclagem de cédulas em seus pontos de venda. Isso permite que dinheiro depositado em uma máquina possa ser sacado por outro cliente, em uma operação diferente, sem intervenção humana. As notas são contadas e validadas pelo próprio equipamento, que transforma o dinheiro físico em digital em apenas 40 segundos. A empresa também é provedora de serviços inéditos na rede de autoatendimento, como recarga de cartões transporte, recarga de celular, saque de moeda estrangeira, entre outros. Atualmente, as pessoas podem realizar mais de 40 tipos de transações nos seus ATMs. “Queremos ser a ponte entre o mundo físico e o digital, através do uso de sistemas inteligentes e de novos serviços”, projeta o CEO da Saque e Pague, Givanildo Luz.

Instituto Caldeira – A que você atribui o sucesso da Saque e Pague?

Givanildo Luz – Uma ideia transformadora não se limita apenas à inovação, mas a resolução de problemas da sociedade. Nosso negócio capitaliza alguns desses problemas. No varejo, resolvemos principalmente três grandes dores. Um deles é o risco do dinheiro, pois eliminamos a venda com cédulas. Cerca de 50% a 60% das vendas ainda acontecem por dinheiro físico e a gente o transforma em digital de forma rápida e simples. A segunda é a questão do custo, pois reduzimos a gestão do dinheiro. E, por último, ajudamos no controle de caixa. Já para os bancos e as fintechs, a gente facilita a vida deles aumentando a presença, a oferta de transações, trazendo eficiência operacional e redução de custos. Mesmo bancos 100% digitais precisam dessa conexão com o mundo físico, materializada em nossos pontos de venda. O mundo não será só digital, os canais físicos seguem sendo muito importantes  e a gente está no meio desse caminho fazendo a interconexão disso. Hoje são mais de 35 milhões de pessoas não bancarizadas no Brasil. Criamos operações que podem ser feitas por quem não tem conta em banco.

Inovamos em tecnologia e no modelo de negócio. Também nos ajuda o fato de termos acionistas que acreditam em inovação, que assumem riscos para criar operações do zero e transformar em grandes empresas, sem desistir no primeiro revés. E por último, essa junção de pessoas apaixonadas pelo que fazem contribui demais para o nosso sucesso. Temos um propósito, que é transformar a relação financeira das pessoas com instituições e queremos ajudar a transformar o mercado brasileiro e global. Tudo isso explica o nosso avanço no mercado.

Instituto Caldeira – Qual o sonho grande da Saque Pague?

Luz – Queremos ser um marketplace de serviços para toda América Latina, reunindo diversos parceiros dentro da nossa plataforma, oferecendo serviços. Temos hoje mais de 2 mil pontos de venda e estamos muito calcados em serviços financeiros, mas há um espaço para crescer na diversidade de serviços, não precisa ser apenas financeiro. Fechamos parcerias para venda de recargas de pré-pagos para Netflix, Uber, Google Play, por exemplo, nos nossos pontos de vendas. Inauguramos em 2020 a Saque e Pague na loja através do Mini ATM, que transforma o caixa dos comércios em pontos de venda de saque. Tudo isso está no nosso radar.

Instituto Caldeira – A Saque e Pague tem uma história pautada pela inovação. Como deve estar estruturada essa área dentro das corporações para serem capazes de gerar mais resultados e como a própria empresa tem conduzido esse tema?

Luz – A Saque e Pague nasceu de uma inovação. Hoje temos uma área que fica 100% do tempo focada em entender o que está acontecendo no mercado brasileiro e internacional. No dia a dia, fica difícil olhar para a inovação com foco, por isso, temos uma diretoria de inovação que pensa no que podemos trazer de novo no amanhã e trabalha para expandir essa visão na empresa como um todo. O time precisa respirar inovação.

A nossa previsão é investir R$ 70 milhões em 2021, mesmo em meio à pandemia. Boa parte deste recurso vai para expansão dos pontos de venda, o que proporcionará um novo salto de crescimento, de 40% a 45%, em 2021. Só em inovação, serão em torno de R$ 15 milhões, o que envolve a construção de novos modelos de negócios e a aquisição de dispositivos para prover serviços diferencidos, resolver novas dores e sistemas de inteligência e automação.

Instituto Caldeira – Quais são as tecnologias exponenciais que estão no radar para impulsionar essa construção de futuro?

Luz – Estamos olhando muito para machine learning. Pensamos também em alguns projetos de blockchain, mas isso ainda está em avaliação, na Internet das Coisas (IoT) e nas criptomoedas, por exemplo. Temos pontos de presença física e conectar devices pode gerar mais engajamento.

Instituto Caldeira – Você comentou sobre a pandemia da Covid-19. O quanto isso ainda está freando a nossa economia?

Luz – Estamos mais preparados para a pandemia do que em 2020, isso é fato. No ano passado, não se imaginava um contexto tão adverso. Agora estamos em meio à terceira onda da Covid-19, que se mostra mais avassaladora ainda, mas aprendemos muito. De lá para cá, as empresas tiveram que se reinventar e ir para mundo digital, com trabalho hoje quase 100% remoto, algo que não estava no nosso modelo mental há dois anos. A gente enquanto empresa também precisou se adaptar. O brasileiro é resiliente por natureza e os negócios aqui no País exigem esse espírito de superação. Com a vacina, agora temos luz no fim do túnel. A minha projeção é que até o quarto trimestre do ano sofreremos com essas ondas de infecções e, consequentemente, com o abre e fecha do comércio.

Instituto Caldeira – Como você avalia a reação da Saque e Pague a esse cenário?

Luz – Apesar do susto em março e abril do ano passado, em maio começamos a acelerar novamente os investimentos. No primeiro momento seguramos, depois vimos que íamos lidar com esse efeito de retração e, em maio, voltamos a investir. Crescemos 25% ano passado na comparação com 2019, algo fantástico na minha visão. A empresa vinha em ritmo de 35% a 40% todos os anos. Isso se deve ao fato de termos produtos inovadores, e também por estarmos no ambiente financeiro, que é cheio de lacunas para entregar serviços com maior valor agregado, o que potencializa o investimento. Conseguimos fechar o ano passado mantendo as conexões entre bancos, varejos e clientes finais de varejo que precisam dos serviços financeiros, agregando mais parceiros ao nosso ecossistema.

Instituto Caldeira – Em meio a todo esse desafio macroeconômico, o setor financeiro ainda vem passando também por grandes transformações. Isso preocupa?

Luz – Acredito que essas novidades vão agregar mais do que impactar negativamente os negócios. Temos o PIX e o Open Banking como as grandes promessas de revolucionar os meios de pagamentos. Acreditamos que vamos ter, sim, uma redução do uso de cartão e do dinheiro, mas isso também vai possibilitar a criação de outros modelos de negócios que a gente até então não conhecia. Tentamos sempre olhar o copo meio cheio. Esses novos recursos vão gerar interoperabilidade do sistema financeiro brasileiro. Hoje ainda há uma grande concentração e, com a pulverização, veremos a geração de novas oportunidades. Os clientes das grandes instituições vão poder usar serviços das nossas redes, que hoje não podem. Estamos pensando em como usar PIX a nosso favor e achamos que essa tecnologia não vai canibalizar nosso negócio, mas, sim, possibilitar novas formas de exponencializar.

Instituto Caldeira – E como tem sido os planos da internacionalização da Saque e Pague?

Luz – Vimos que tudo que desenvolvemos em Porto Alegre poderia ser adaptado e escalado para esses outros países. E está dando muito certo. Em 2020 chegamos a todos estados brasileiros e hoje estamos em 360 cidades nacionais. Em 2017, iniciamos a operação no México e no ano passado estreamos no mercado colombiano. Nos dois países estamos construindo parcerias com operadores bancários. Chegamos a olhar Paraguai, Argentina, Chile, mas o México é segundo maior país da América Latina e tem similaridade grande com o Brasil, apesar das particularidades culturais. Eles usam muitos serviços lá, o que gera uma oportunidade para a gente. A Colômbia, por sua vez, é muito organizada econômica e politicamente, vinha crescendo 5% a 6% nos últimos anos. Ambos os países estão com o mercado financeiro em ebulição, com o advento das fintechs e bancos digitais. Acreditamos que era o momento ideal para entrar, não queríamos perder essa janela de oportunidade.

Instituto Caldeira – Como é fazer parte do Instituto Caldeira?

Luz – A nossa ideia é ter boa parte do nosso time de inovação dentro do Caldeira para capturar o valor que esse empreendimento vai gerar para a sociedade gaúcha. Queremos que as pessoas se desenvolvam aqui no Estado, precisamos de bons profissionais. Também é interessante participar desse ambiente de cocriação com parceiros do setor financeiro como Banrisul, Renner, Sicredi e Agibank. Isso gera uma troca de informações muito valiosa. É muito gratificante fazer parte desta iniciativa e deixar esse legado para as novas gerações.

Quando eu conheci o Caldeira, fiquei positivamente impactado com o projeto e o seu propósito. Admiro muito a ideia de criar um ambiente de inovação no Rio Grande do Sul juntando as maiores e mais tradicionais empresas para criar um contexto onde todos vão respirar inovação, receber capacitação e trocar ideias.